terça-feira, 30 de novembro de 2010

Um Dia no Hospício - Danny Marks

Um jovem psiquiatra foi visitar o hospício em que iria começar a trabalhar no dia seguinte. Foi recebido pelo diretor do local que o levou para conhecer as instalações.
Logo de inicio ficou impressionado com as belas pinturas que enfeitavam as paredes.
— Que beleza — disse — Quem pintou?
—  Essas? Ninguém... Não sabia que aqui Ninguém é pintor? — respondeu o diretor
O Recém chegado, sem compreender muito bem, continuou a seguir o homem e acabou dando de cara com uma excelente escultura em tamanho natural, de uma bela mulher.
—  Puxa vida! É linda, não, é perfeita...
—  É, essa é a mulher que Ninguém conheceu...
—  Mas, é uma obra de arte, só um gênio faria algo assim...
—  Digamos que neste lugar, Ninguém é um gênio. Mas venha, estão todos lá no pátio...
Foram até o pátio central e o desconcertado jovem observou que haviam várias pessoas formando um círculo. No meio delas encontrava-se um homem deitado se debatendo...
Aproximou-se apressadamente e então percebeu que o homem não se debatia, apenas girava como um pião sobre o seu ombro direito enquanto todos o observavam...
Ia perguntar ao diretor o que estava acontecendo quando o paciente parou de girar. Todos aplaudiram e ficaram aguardando....
Dois outros se aproximaram e o viraram sobre o ombro esquerdo, e este imediatamente começou a girar sobre si mesmo outra vez....
— O lado “B” é o melhor — disse o diretor — tentei convence-lo a gravar em cd, mas ele ainda prefere o vinil, acha que dá mais “cor” pro som.
— Mas quem é esse cara? — perguntou o psiquiatra
— Aquele ali? Ninguém, é claro! Vai dizer que não sabia que aqui Ninguém é musico.
— Mas... esse cara é louco!!
— Claro que é, onde você pensa que está?
O jovem ficou assustado com o olhar do diretor, mas tentou manter-se firme.
— Eu... acho que há alguma coisa muito errada por aqui...
— Sério? Diga o que é que Ninguém vai dar um jeito nisso. Alias... sabe quem faz quase tudo por aqui?
— Ninguém? — respondeu com uma careta o visitante, já com os nervos a flor da pele.
— Isso!!! Você vai se dar muito bem...
Transtornado o rapaz decidiu fugir o mais depressa possível. Saiu correndo, sem nem mesmo olhar para trás.
Chegando no pátio de estacionamento encontra um homem com os braços abertos em cruz, uma lâmpada em cada mão, bem em frente ao seu carro.
— E mais essa agora? Quem é você?
— Eu sou o Poste. Notei que ia precisar de uma luz aqui...
— É...? E pra quê?
— O pneu do seu carro? Não vai precisar de luz para arrumar?
Só então o médico notou o pneu furado. Tremendo, tratou logo de trocar pelo estepe. O que mais poderia dar de errado? Tentava não responder isso, ainda mais com o “Poste” observando atentamente cada movimento...
De tão nervoso acabou deixando cair os parafusos do pneu em um bueiro.
— Droga!!!...Droga!!!...Agora não saio nunca mais... — e caiu em uma crise de choro.
— Calma! Isso tem solução. Tire um parafuso de cada pneu e coloque nesse, assim cada roda fica com três parafusos. Vai dar para chegar em um borracheiro e comprar os outros parafusos — disse o Poste.
— Ei!! Essa ideia é ótima. Até que você não é tão mal assim...
— É, Ninguém me disse isso. Postes não gostam de cachorros, mas não tem nada contra burros.
O rapaz fez o que o Poste tinha sugerido e foi embora sem dizer mais nada.
Nunca mais voltou...
Ninguém sabe o que aconteceu...
Ninguém disse que ele abandonou a medicina, acabou virando um escritor e se dedica a escrever os Retratos da Mente em um site na internet...
Você duvida?!
Pois fique sabendo que neste lugar Ninguém mente!!!

segunda-feira, 29 de novembro de 2010


Sem a loucura que é o homem
Mais que a besta sadia,
Cadáver adiado que procria?

Fernando Pessoa

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

A Tentação de Mr Jones



             Mais um dia de trabalho duro no escritório. Sempre tenho a impressão que todas coisas esperam para acontecer nas sextas feiras. Preciso fazer o fechamento até segunda.
            Deveria fazer como alguns colegas, vir trabalhar no sábado, só para não perder a “esticada” de sexta. Decidi ficar só por causa da “Miss G”.
            Fiquei observando ela desfilar, com seu tailer a realçar as curvas dos seios e a bunda empinada pelo salto alto, por todo o dia.
            Cada vez que a vejo, perco um tempão para me recompor. E quando ela se debruça sobre a mesa de alguém exibindo aquela bunda deliciosa ainda mais? Cara, ainda lembro daquela vez que ela se debruçou sobre a minha mesa. Dois botões abertos na blusa, e aquele Grand Canyon. A plenitude dos seios maravilhosos, completamente soltos e firmes, expostos ao meu olhar. Suei frio até ela ir embora e eu, discretamente, correr para o banheiro. Que tortura!
            Ah, ela é muito simpática, nem liga quando eu a chamo de “Miss G”, apenas sorri e muda de assunto como se não entendesse do que estou falando. Ela sabe que é gostosa, mas não fica cheia de si por isso, como algumas mulheres.
Eu bem que gostaria de recheá-la, um pouco pelo menos.
            E, logo hoje, estamos nós dois a sós no escritório, todos já se foram. Apenas nós dois ficamos para terminar o trabalho.
            Ela se levanta da mesa dela e me pergunta, desfilando ao meu lado:
            _ Vou fazer um café, você quer, Jones?
            _ Claro que eu quero, obrigado, ajuda a ativar a mente.
            E depois quero transar com você, gostosa, isso me ativaria por inteiro.
            Ela se afasta com aquela bunda rebolando toda, na minha frente, em direção ao cubículo onde montamos a nossa “copa”. Deliciosa.
            Calma, Jones, pense no trabalho, homem. Apenas no trabalho.
            Porra, o trabalho que se foda. Não dá para pensar em mais nada, droga.
            Talvez se eu me recostar na cadeira e fechar os olhos, consiga me concentrar. Vamos lá, respirar fundo, mãos na nuca, deslocar a mente para o futebol, contas a pagar, as pernas da Miss G, ela tomando banho toda nua...
Caralho! Assim não dá.
            Do cubículo vem o barulho de água correndo, ela deve estar debruçada no balcão da pia...
            Chega! Tenho que resolver isso agora, de uma vez por todas.
            Levanto decidido a colocar as coisas no lugar. Ah! Bota lugar nisso. Já não penso em mais porra nenhuma mesmo, é agora ou nunca.
            Chego na “copa” e a porta está aberta, ela enchendo a jarrinha da cafeteira para fazer o café, de costas para mim, ligeiramente curvada.
            Aquelas nádegas me encarando é a gota d’água. Agarro ela por trás e lhe cheiro a nuca encostando o meu pênis duro em sua bunda para que ela sinta todo o tesão que me provoca.
            Ela solta a jarra, que se parte na pia, soltando um gemidinho disfarçado, um protesto desanimado.
            _ Não, Jones, por favor. Não faça isso...
            É tarde. O meu cérebro já se mudou para Cingapura com passagem só de ida e o que restou do meu corpo tem outros planos. Nada de pensar em bobagens, quero é fazê-las, todas! Agora!
            Viro-a para mim, rude, quero encarar aquela gostosura de frente. Mantenho ela apertada em meus braços para que não fuja. Colo a minha boca na dela e a penetro com a minha língua, bem entre os dentes ligeiramente abertos, ela fica resistindo e gostando. Ah, safada! Como eu gosto disso.
            Ela me pega pela cabeça e me devora com sua boca, completamente excitada agora, estamos em brasa os dois.
            Uso as minhas mãos para abrir a porra da blusa. Queria saber quem foi o filho de uma puta que inventou botões pequenos para colocar nesta merda.
            Liberto aqueles seios lindos de sua prisão. Sou um revolucionário argentino lutando por uma causa democrática: mulheres deveriam andar com os peitos de fora, Viva a Liberdade! Que visão do paraíso.
            Apalpo, amasso, beijo como posso, minhas mãos parecem em brasas, meu corpo tremendo todo. Deixo a boca dela de lado, preciso sugar aqueles seios maravilhosos,  o cheiro do perfume dela invadindo o meu corpo.
            Vou subindo dos seios para o pescoço e dali para a sua boca, só para descer tudo de novo.
            As costas dela parecem feitas de seda, desço as mãos pelas nádegas até o limite de sua saia, depois subo levantando tudo no caminho.
            Uma calcinha vermelha, rendada, quer servir de escudo entre eu e aquela preciosidade. Ah! Basta um puxão rápido e pronto, mais nada me impede.
            Ela me beijava com volúpia e me abre as calças mais rápido que eu conseguiria no estado em que me encontro.
            Segura o meu membro duro em suas mãos e se curva para chupá-lo.
            Um choque percorre a minha espinha todinha. Deve estar ligada em 440 v, que loucura isso.
            Puxo-a para cima e a sento sobre a mesinha derrubando tudo no caminho, enfio a minha cara entre suas pernas e passo a língua pelas coxas, beijando seus pêlos, acariciando as dobras antes de penetrar-lhe na intimidade, umedecendo-a, preparando-a.
            Ela arqueia as costas e se abre ainda mais para mim, as pernas sobre os meus ombros, me prendendo. Como se eu quisesse fugir.
            Quando ela não agüenta mais me puxa pelos cabelos buscando a minha boca e me forçando a ir mais longe, mais rápido.
            Cruza as pernas na minha cintura enquanto guia o meu pênis duro para dentro dela. Assim que estou encaixado eu me arremeto de uma vez, com força, invadindo definitivamente para que ela sinta toda a minha virilidade.
            Ela solta um gritinho que me alucina de vez. Lá vou eu, entrando e saindo cada vez mais rápido acompanhando cada gemido, com um prazer que quase me sufoca. Ela goza rapidamente e relaxa, mas eu ainda quero mais, muito mais. Tanto tempo esperando por isso, é hoje que me acabo.
            Deito-a de bruços sobre a mesa expondo suas nádegas nuas.
            _ Não, por favor, isso não...
            Ela suplica, mas não se move do lugar, eu entendo o recado...
            Abro caminho com as mãos e penetro violentamente, de uma estocada só enquanto ela grita e geme de dor e prazer.
            Isso me deixa completamente louco. Acelero o ritmo o mais que posso.
            _ Desgraçado! Vai logo com isso... Goza seu filho da puta, maldito...aaaiiirghhh...
            Ela já está suando por todos os poros, eu já me derreti a muito tempo, consumido pelo fogo do tesão.
            Os dois completamente enlouquecidos, como animais, urrando e gemendo. Não resta mais nada inteiro sobre a mesa que já dá sinais que vai desmontar também.
            Agarro os cabelos dela e a obrigo a virar de lado, beijando a sua boca e não consigo mais me segurar. Gozamos juntos nos beijando, sem fôlego, suados.
            Continuamos nos beijando até que o tesão diminua e então eu saio dela, libertando-a.
            Olho para aquela bagunça toda, pó de café espalhado por todos os lados, tudo quebrado....
            _ Jonas, o café vai esfriar.
            O que? Cacete! Eu cochilei? Miss G completamente vestida com uma xícara de café fumegante me esperando, bem em frente a minha mesa.
            Agradeço sem jeito e tomo um gole, preciso ficar lúcido.
            Porra, foi tudo um sonho? Mas que Merda!!!
            Bom, já que estou no embalo mesmo...
            _ Muito gostoso o seu café, verdadeiramente uma delícia.
            _ Obrigada, meu marido também adora.
            _ Marido?!?! Não sabia que era casada, nem usa aliança.
            _ É que eu não gosto de comentar minha vida particular. Vou indo, Jones. Ele me ligou, está me esperando na portaria, vamos jantar. Tenha um bom fim de noite. Não vai se matar de trabalhar, você não parece nada bem.
            Caralho!!! Eu quero me matar. Espere um pouco, vou ali pular pela janela e já volto. Meeeerrrrrrrdaaaaaa!!!
            _ Estou bem, só um pouco cansado, não se preocupe. Tenha uma noite gostosa.
            Ela ri e sai, rebolando. Eu fico olhando para a porra da pilha de papeis, parecem duas pernas abertas me esperando. Ataco com toda a minha fúria.
            Segunda-feira vai estar tudo pronto. Eu nunca mais vou fazer hora extra nesta porra. Nunca mais!!!

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

CANÇÃO DE OUTONO - Cecília Meireles


Perdoa-me, folha seca,
não posso cuidar de ti.
Vim para amar neste mundo,
e até do amor me perdi.

De que serviu tecer flores
pelas areias do chão,
se havia gente dormindo
sobre o próprio coração?

E não pude levantá-la!
Choro pelo que não fiz.
E pela minha fraqueza
é que sou triste e infeliz.
Perdoa-me, folha seca!
Meus olhos sem força estão
velando e rogando áqueles
que não se levantarão...

Tu és a folha de outono
voante pelo jardim.
Deixo-te a minha saudade
- a melhor parte de mim.
Certa de que tudo é vão.
Que tudo é menos que o vento,
menos que as folhas do chão...
Cecília Meireles

Inferno Passado - Danny Marks


 
            Ela olhava pela janela enquanto as chamas consumiam o tapete feito à mão. Tapete antigo que nas chamas azuis passavam do branco alvo ao negro.
            Seu rosto ficou impassível enquanto as chamas consumiam a mobília lentamente, subindo pelas cortinas e alcançando as paredes pintadas com esmero.
            Soltou um sorriso mordaz ao ver as fotos nos quadros ficando amarelas e desaparecendo, fotos de um passado que se consumia, destituído de seu antigo poder que a dominara tão profundamente.
            Deus, como pudera se deixar levar assim por tantos anos?
            Agora era ela, a Deusa mortal, que assistia a tudo com uma frieza distante, que assustava até a si mesma.
Então era assim que os Deuses se sentiam? Esse poder de vida e morte que possuíam era inebriante a ponto de deixá-los indiferentes ao destino que aplicavam a outros?
            As chamas pareciam ter vida própria, uma vida faminta de tudo a sua volta, consumindo e correndo, crescendo e se multiplicando.
            Já subiam as escadas e alcançavam os quartos. Sobre a cama de dossel o vestido de noiva, amarelado pelo tempo, repousava como mortalha de uma mártir que logo seria entregue ao seu ultimo suplicio.
            Quantos sonhos tivera com aquele vestido, com aquela casa, com aquele que descansava sentado no quarto ao lado, alheio ao seu destino.
            Em breve não sobraria mais nada daqueles momentos antigos, ressequidos e empoeirados. Já podia ver as chamas consumindo os corpos que se dissolviam em uma pasta amorfa, em cinzas e fumos tóxicos.
            Talvez fosse a fumaça que, agindo sobre os seus olhos, provocaram lágrimas. Talvez. Queria acreditar nisso.
            Não poderia admitir que aquilo ainda a afetasse. Não depois de sua decisão tomada, da necessidade de exterminar aquela vida parasitária que poderia destruir tudo a sua volta.
            Engraçado que, olhando a casa de bonecas que tanto amara na infância, com o casal outrora apaixonado, hoje roto e quebrado, que a habitava, onde construíra sonhos de felicidade infantil, pensava na sua vida.
            Guardara com tanto empenho aquele ícone de felicidade, apenas para descobri-lo infestado pelos cupins, mofado pelo tempo, destruído pelo abandono, supostamente guardado seguro quando na verdade era descaso e esquecimento.
            Teria sido assim que a sua vida ruíra? O descaso disfarçado de segurança? O pensar-se e não fazer-se?
Quanto daquilo era sua vida, e quanto havia sido sonho.
            Obrigou-se a olhar as chamas que já declinavam, seu trabalho quase concluído, transformando sonhos em cinzas, esperanças em fuligem que o vento sopraria para longe.
            Um banho de água fria a exterminar de vez o trabalho, uma pá para recolher os restos e um saco preto como ataúde.
O inferno que consumira o seu passado não poderia contaminar o seu futuro. Não poderia permitir-se isso.
            Ajeitou as roupas, secou as lágrimas, limpou a fuligem do rosto e respirou fundo o ar puro que a cercava.
            Depositou o saco preto dentro da lata e tampou definitivamente aquela sombra que tentara se agigantar.
            Deu uma olhada na porta de sua casa, trancada, segura. Sorriu.
            Decidiu que compraria uma outra casa de bonecas, maior e mais linda para a sua filha, e desta vez seria diferente. Desta vez seria melhor.
            Precisava acreditar nisso.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Adoraria voar - Leila

(um presente da minha amiga Macy)

Entre quatro paredes
eu tenho o mundo.
De um pedaço de céu
da janela eu vôo
E o meu violão
é uma orquestra completa
É tão fácil nadar
numa gota de chuva
e dormir abraçando
um raio de luar.
Bastou que eu olhasse bem fundo
em teus olhos.
Pra ter tudo isso
não preciso sonhar.

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