quarta-feira, 26 de setembro de 2012

O PROTEGIDO - Lariel Frota



 -Velha maldita, muquirana, mentirosa. Vai queimar no fogo do infern!
-Que isso Mauricio, isso  é jeito de falar da sua avó   que sempre o tratou tão bem?
-Tratou bem uma ova. Eu era o único que  fazia  tudo sem reclamar. Jogava o maldito gamão, acompanhava as orações. Quando completei dezoito anos ganhei um carro, mas   virei motorista particular. Velha sovina, mão de vaca. Na hora de dividir a empresa  foi tudo  em partes iguais.
-Ela sempre o protegeu de uma maneira especial. Pra ser coerente  empregou todos os netos, mas sempre o favoreceu nas promoções e nomeações.  Vocês   são  em  quatro portanto o testamento tinha quer ser legalmente justo.
- Seria justo se não tivesse me prometido  nada.  Ela é quem falava de  recompensa especial, acabei acreditando. Grande recompensa, um livro com capa de couro feita à mão,  repleto de hinos religiosos e orações pra tudo quanto é santo.
-Quem sabe um dia não lhe seja útil. Afinal nunca se deve desprezar a proteção divina.
                                                              (....)
-Mãe, cadê o pai?
-Tá  no sótão, procurando  a planta do casarão  da Mooca, que foi  da sua  falecida bisavó.
-Que sufoco! Mexer em papel velho, cheios de pó e recordações ruins.
-Olha o respeito menino,  passado tem lembranças  boas também!
                                                           (....)
-Doutor, porque  esse acidente vascular cerebral? Tava tudo tão bem!
-Infelizmente essas ocorrências não têm  explicação. Com a idade  nosso   sistema circulatório sofre alterações naturais. A senhora sabe  se ele teve alguma emoção, ou  aborrecimento sério?
                                                         (…)
-Que estranho mano, venha ver isso.A mamãe pediu para eu guardar a papelada que o papai estava  mexendo quando  teve o A.V.C.  Olha o que encontrei: um  livro antigo    de hinos e orações da nossa bisavó. A capa de couro está meio  descolada,  veja o que tem dentro, um maço  de dólares, deve ter uma pequena fortuna. Será que foi o papai que escondeu isso ai?

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Cigarros e Amor - Danny Marks




Ontem você perguntou-me se eu te amo e eu não soube responder.
É estranho falar desse estranho amor.
Acho que ele é como um cigarro, existem muitas marcas diferentes, umas mais fortes outras mais fracas,mas você nunca sabe qual é o sabor antes de fumar até o fim.
Alguns dizem que eles fazem mal ou talvez nós que os fazemos mal.
Algo assim como o amor.
É difícil distinguir só pelas cinzas, pelo brilho nos olhos,   o sorriso parado nos lábios.
Somente quando termina é que você sabe se realmente valeu a pena, se foi bom ou mal, mas aí já terminou.
E você tenta mais um e depois outro, até ficar viciado.
Realmente é difícil falar do amor porque sempre fica a dúvida da qualidade do que está a sua frente, quanto tempo vai durar, o que fará com você.
Quando começa  não sabe o que vai sentir, se vai ficar satisfeito ou com mais vontade que antes.
Então você coloca um cigarro nos lábios e um amor no coração e tenta aproveitar o máximo até que a chama se apague pra sempre ou até o próximo maço.

(Danny Marks - 25/12/1980)

Esse mundo maluco - Danny Marks



De um monte de lama apareceu
e dominador decidiu ser
De todos animais virou rei
em altos brados proclamou:
 "Homem serei..."
E guloso como sempre
uma nova fruta inventou
muito doce, muito bela
mas muito tagarela
até que mulher virou
E os anos se passaram
em paz tudo ficou
até que em um passeio
uma cobra o homem avistou
enrodilhada com outra cobra
juntas a se arrastar
e o homem com inveja
logo a mulher foi chamar
imitaram a cobra por muito tempo
Até que o homem se cansou
e sem nada para fazer
cheio de tédio esperou
Mas que decepção,
apenas a mulher engravidou.
Com raiva o homem partiu
e só nove meses depois ele voltou
viu o novo ser que criara
comilão e tagarela
além de pequeno ele era
e o homem com orgulho disse:
_ Filho será...
E assem cresceram se multiplicaram
e muita bagunça arrumaram,
uma calamidade
Tanto tempo viveram
Que se chamaram humanidade
Mas o tédio veio
e sem nada para fazer
resolveram inventar a guerra,
aprenderam a morrer
Morreram tantos,
morreram todos,
até que, enfim,
lama voltaram a ser....

(Danny Marks -  12/06/1981)

Inacabada - Danny Marks




Pássaros e pensamentos
Ambos criados para voar
em todos os instantes e momentos
que puderem imaginar
Meus pensamentos também
voam entre nos espaços
rumo ao além
que termina nos seus braços

Saudade, palavra incompreendida
que todos julgam triste
por ser dita na despedida
esquecendo-se de que é melhor
ter-se a saudade de alguém
do que, embora não se diga,
não senti-la de ninguém

Da vida sinto os medos
Do futuro apreensão
Mas possuo força nos dedos
e amor no coração
para lutar por (e com) você
que faz-me sentir feliz
pois representa
o amor que sempre quis...

(Danny Marks - 25/07/1982)

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Vivendo e aprendendo (ou Não). - Danny Marks



 “Quando observamos a quantidade e a variedade dos estabelecimentos de ensino e de aprendizado, assim como o grande número de alunos e professores, é possível acreditar que a espécie humana dá muita importância à instrução e à verdade. Entretanto, nesse caso, as aparências também enganam. Os professores ensinam para ganhar dinheiro e não se esforçam pela sabedoria, mas pelo crédito que ganham dando a impressão de possuí-la. E os alunos não aprendem para ganhar conhecimento e se instruir, mas para poder tagarelar e ganhar ares de importantes. A cada trinta anos, desponta no mundo uma nova geração, pessoas que não sabem nada e agora devoram os resultados do saber humano acumulado durante milênios, de modo sumário e apressado, depois querem ser mais espertas do que todo o passado. É com esse objetivo que tal geração frequenta universidade e se aferra aos livros, sempre aos mais recentes, os de sua época e próprios para sua idade. Só o que é breve e novo! Assim como é nova a geração, que logo passa a emitir seus juízos. [...] Em geral, estudantes e estudiosos de todos os tipos e de qualquer idade tem em mira apenas a informação não a instrução. Sua honra é baseada no fato de terem informações sobre tudo, sobre todas as pedras, ou plantas, ou batalhas, ou experiências, sobre o resumo e o conjunto de todos os livros. Não ocorre a eles que a informação é um mero meio para a instrução, tendo pouco ou nenhum valor por si mesma [...]” (in A Arte de Escrever – SCHOPENHAUER, Arthur, LP&M, 2012, pgs 19,20)

                Poder-se-ia dizer que a citação acima foi tirada de algum jornal ou outra mídia da atualidade brasileira, não fosse o fato de Schopenhauer (1788-1860) estar distante tanto geograficamente quanto no tempo da nossa realidade. Mas, e aqui começa a parte interessante, guardadas as generalizações e a visão pessoal do autor, as palavras podem ser transportadas diretamente para o ambiente escolar da atualidade, para a sociedade acadêmica e os novos alunos, aprendizes dos saberes.
                Aqueles que tem contato com a dura realidade das salas de aula, públicas ou privadas deste enorme país de tantas faces e sotaques, sabem que nada é tão preto no branco como dizem as mais belas teorias pedagógicas, antes sim, as coisas são cinza e cinzas é o que produzem em sua grande maioria.
                De um lado há profissionais que reclamam de baixos salários, mas boa parte nem pensa em trabalhar corretamente, de forma ética e competente, buscar competências que se tornam necessárias à evolução de qualquer carreira, e mesmo o conhecimento instituído necessita de novas formas de ser transmitido.
                Em outro lado há os sistemas políticos, públicos e privados, com suas belas campanhas e realidades tortas, obscuras. Cobranças de um lado e apaziguamentos de outro, dá com uma mão e tira com duas.
                Em outro ainda, os alunos que vão para a escola como refugiados de lares desfeitos, como guerrilheiros de um campo de batalha urbano, como sábios informatizados de conhecimento tão volátil quanto a memória Ram que possuem no lugar de cérebro pensante.
                E por fim, os pais desses alunos, em sua grande maioria esperançosos de dar aos filhos o que nunca tiveram. Alguns esquecendo de dar, também, o que tiveram, como educação: limites, formação de caráter, sociabilidade, responsabilidade.  Estes valores, sem dúvida alguma os que lhes possibilitaram serem pessoas melhores e que, por negligência ou qualquer outra incapacidade consciente ou inconsciente que possuam, deixaram de transmitir aos rebentos como herança, são os que esperam “alguém” acabe por ensina-los aos seus filhos, "criados para o mundo". Que mundo?
                A responsabilidade deixada de lado gera a impunidade, que gera o caos que não vê vitoriosos ou derrotados, apenas o que precisa ser destruído e consumido na sua onda devastadora.
                Caos é, antes de mais nada, a ausência de ordem, de controle, de limites.  O Caos não tem senhor ou objetivos a serem alcançados, existe apenas porque não foi contraposto pela ordem, pelo limite.
                E assim vamos todos nos tornando cúmplices e vítimas do caos que criamos, por preguiça, negligência ou simplesmente por não querermos ver que não há outro alguém que fará por nós o que não nos dispusemos a fazer, ao fugir de nossas responsabilidades em tornar-nos melhores para o mundo para que, por consequência disso, o mundo se torne melhor para todos.

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