terça-feira, 25 de março de 2014

Perdi meu sorriso na curva do rio – Danny Marks


— Ei, devolve o meu sorriso!
A chave saltou da minha mão em mergulho suicida na calçada. O que estava acontecendo com aquela sombra? A essa hora da noite as ruas não deveriam ter arvores.
Era só uma questão de vencer a ultima barreira da liberdade de ir para a segurança da vigília de câmeras sem holofote.
Abaixar rapidamente para desviar das palavras que vinham em minha direção e pegar as chaves do castelo. Palavras pesadas desabam do ar quando nos curvamos.
— Tá ouvindo? Devolve!
Quantas chaves cabem em um Molho? Coletivo de chaves, que se fosse de macarrão levaria tomate e outras coisas e serviria para tanto, neste momento, quanto não encontrar a chave certa. Tremor, calafrio, arrepio, descarga de adrenalina por situação de stress súbito, droga, alguém me empresta um palavrão!
— Eu sei que tá me ouvindo. Por que não devolve? Esse sorriso não te pertence mais.
Com tantas coisas para fazer, quem iria roubar um sorriso?  Drogado, bêbado de delírios químicos. São os mais perigosos quando resolvem agir violentamente, não tem nada a perder. Perdeu... Perdeu... é o que dizem sempre. Ou seria metáfora?
Metáfora, palavra ou expressão que produz sentido figurado.
Quem será a figura? Um rosto que o identifique, nas câmeras.  Louco, poeta, criatura vil arquitetando planos de traição? O assassino do noticiário foi encontrado nas imagens e capturado em regime fechado. O regime da vítima mais que fechado, lacrado, emagrecendo e apodrecendo até o pó. Vingança que só serve aos que ficam, justiça seja feita, vão-se os dedos ficam os anéis.
Dá vontade de chorar, o objeto metálico penetrando, forçando a passagem, empurrando mecanismos até ouvir um... click? Deveria ouvir se não fosse o tênis provocando ruídos de aproximação.
Entrar, trancar, um tiro alcança longe, mas nem sempre acerta o alvo. Só se for por azar.
Melhor enfrentar a situação, há uma química estranha entre o medo e a curiosidade que nos faz...
Adolescente. Quem ensina tantos palavrões a essa geração? Nem mesmo os sei. O celular onipresente, todos tem um para distanciar as comunicações.
Fico olhando, e no assombro do inusitado o aparelho é desligado. Águas seguem o seu rumo, contornando os acidentes do terreno, extraindo sua força da gravidade da situação. Nos tempos de hoje não se chora em presença, só nas ondas eletromagnéticas das imagens fantasiosas, estáticas.  Humanos são os únicos animais que lacrimejam por sentimentos.
Ele se afasta e desaparece da visão, fico sem saber quem ou como lhe roubou o sorriso. Uma ponta de remorso escondida no bolso, mãos geladas, as costas encostadas nas grades que separam a segurança da liberdade, o cansaço de mais um dia refletido nas lentes frias que poderiam registrar...
Só então me dei conta da perda. Onde está? Grito...
EI! DEVOLVE O MEU SORRISO!!!

segunda-feira, 17 de março de 2014

Todo Mundo tem o Direito de Ser Feliz - Campanha da Saatchi & Saatchi

Este vídeo é a resposta para a mãe que enviou o email... e para todos nós também. Porque ninguém nasce perfeito, isso é algo que construímos durante a vida. Parabéns a todos os envolvidos nessa jornada, fazem por conquistar o meu carinho e respeito. (Danny Marks) 



A filial italiana da Saatchi & Saatchi aproveitou um e-mail enviado por uma futura mãe para criar a nova campanha da CoorDown, organização nacional de apoio à Síndrome de Down.
"Que tipo de vida o meu filho vai ter?", perguntou a mulher que estava com medo, pois acabara de descobrir que seu filho iria nascer com a doença genética.
O anúncio, feito especialmente para o Dia Mundial da Síndrome de Down, celebrado em 21 de março, traz 15 portadores da Síndrome de Down para responder a pergunta da mãe, mostrando as alegrias e os desafios que o filho possivelmente enfrentará no futuro.
O filme adota o conceito "Todo mundo tem o direito de ser feliz", a fim de promover a diversidade e integração na sociedade, especialmente na escola e no trabalho.
Este é o terceiro ano de trabalho da Saatchi com a CoorDown. As duas últimas campanhas ganharam 11 Leões em Cannes para a agência.
Com informações do Adweek.


Leia Mais:

sábado, 8 de março de 2014

Encontro às Escuras – Danny Marks


— DEUS!!!
— Oi, está tudo bem por aqui?
— Quê? Porra, velho, quem é você?
— Não me reconhece? Sou eu...DEUS! Você me chamou...
— Não chamei não. Foi a luz que apagou. Que barulheira é essa? Como entrou aqui?
— Não ouviu antes? Sou... DEUS! As trombetas são...efeito sonoro, pra dar dramaticidade.
— Como assim... DEUS!???
— Tipo assim, o criador de todas as coisas. O pai supremo. Aquele que concede graças...
— Criador de todas as coisas... Ah, fala sério, você é um empresário! Saquei, isso é algum golpe publicitário da sua empresa e daqui a pouco a luz acende  e vai ter um monte de gente, as câmeras...
 — Não, ainda não entendeu... Meu... EU! Onde foi que errei ao criar essa espécie?
— Se não é da TV, então é ladrão. É, porque entrar assim na minha casa... meu, se arrombou a minha porta vai ter que pagar!
— Não arrombei a porta... Surgi aqui na sua sala. Eu sou Deus, lembra? Não é do meu feitio ir por ai arrombando portas...
— Velho, de boa, se for o figura que falam por ai, cara, cê é um tremendo de um mau caráter.
— Epa! Olha lá como fala, cadê o respeito?
— Respeito? Você é o principal causador das guerras no mundo. Seguido de perto pelo dinheiro, mas tudo bem, porque o conceito é o mesmo. Tudo o que é cultuado acaba virando motivo de guerra, de imposição e...
— Não, há um engano nisso. Eu tenho sido mal interpretado e...
— Ah, claro. Agora vem com esse papo de político. Os desvios de verbas, as falcatruas por baixo dos panos, sociedades secretas e coisa e tal... foi um erro de interpretação... sei.
— As coisas são mais complicadas do que parecem.  Posso sentar?
— Ah, sim, pode... Quer uma cerveja?
— Não tem vinho? Sabe, é que eu prefiro.
— Eu posso te dar água e você transforma, quer? Tipo assim, aquela vez...
— Não, esse foi o meu filho...
— Tá vendo? Eu sempre disse que esse lance de protecionismo era a sua pior característica. Por que pra ele você deu poderes enormes e pra todo o resto nada?
— O que você queria? Crucificar a todos? Quem iria me adorar?
— Ah, mas é muita hipocrisia, fazer com que um carregue a culpa de todos. Depois tem gente reclamando dos políticos que sacrificam os inocentes para pagar os próprios pecados.  Esse é o seu exemplo...
— Quer saber...? Me traz a cerveja mesmo.
— Não tá muito gelada, acabou a luz, lembra? E é daquela marca...
— Tudo bem! Traz logo essa mesmo. Que se dane.
— Tipo assim, você não poderia fazer um milagre de multiplicação?
— Da cerveja?
— Não, de uns dólares que tenho escondido. A coisa tá feia pro meu lado e... sabe como é...  o lance de família...pra ajudar nos momentos difíceis...
— Mas vocês me abandonaram...
— Não, nada disso! Até onde sei foi você que expulsou a gente de casa. Tava tudo muito bem no paraíso, com sexo, comida, boa vizinhança...  
— Mas eu dei a Terra para vocês...
— E nunca veio nos visitar... Agora não vem não que já é usucapião...
— Tá... tudo bem, não vamos falar do passado...
— Legal, vamos falar do futuro. Quais  números que vão ser sorteados na Mega-Sena acumulada?
— Mas você só pensa em dinheiro?
— Claro que não. Também penso nas coisas que o dinheiro traz. Esse lance de dar a vida é fácil, mas quem sustenta? Aí, toma a cerveja.
— Nossa, é muito ruim mesmo.
— É o que deu pra comprar. Já falei, a coisa tá feia pro meu lado. Se tivesse mais grana...
— Acho que vou acabar com o mundo.
— Por mim tudo bem... pode ser na terça feira? Quero saber o final daquela série...
— O assassino é o Jorge, estava devendo para os mafiosos e armou o plano do sequestro, mas deu tudo errado e...
— Beleza! Acabou de ferrar o único prazer que eu tinha. Vai, acaba com o mundo...  Ao menos não vou ter que pagar as contas no próximo mês.
— Está tudo errado, não deveria acontecer assim.
— Ei, não olha pra mim não, o DEUS! aqui é você.
— E você deveria ser meu profeta. Anunciar ao mundo a minha palavra...
— E por acaso tenho cara de publicitário? Velho, se enganou de apartamento...
— Aqui não é o 2024?
— Claro que não, é o 2014.
— Droga, errei na queda, desculpe. Bem, então vou indo... obrigado pela cerveja.
— Já que tá aqui, quer mais uma?
— Bem... pode ser... Um milagrezinho não faz mal, né?
— Opa!!! Agora sim! Essa é da boa.
— Eu sei, andei pesquisando na internet enquanto falávamos.
— Valeu! Até que você não é tão mal quanto dizem por ai... tem essas coisas das sete pragas e tal, mas quem é perfeito, né?
— EU sou perfeito.
— Oh cara, na boa, não está acostumado a beber, não é mesmo? Vai, chega pra lá. Quer ver alguma coisa na TV? Tem canal de sexo, de esportes... Ah, droga, a luz ainda não voltou...
— Podemos apenas ficar conversando. Trocar umas ideias e tal, tenho todo o tempo do mundo...
— Sem problemas, também não curto muito beber sozinho, e tem umas coisas que eu queria lhe dizer...
— É mesmo? O quê?
— Ah, nada demais... Só umas curiosidades e... sei lá, sugestões para melhorar o mundo...
— Tranquilo... Quer um queijinho? Esse é do bom, acabei de fazer.
— Pai... posso te chamar de pai, não é? Afinal...
— Pode sim. Diga meu filho...
— Acho que esse será o início de uma grande amizade...


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